quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Sorria, você está sendo vigiado!

Máquinas que enxergam

SÃO PAULO - Câmeras sabem quem entrou na loja, que produtos têm defeitos e até se a bola saiu da quadra.

Quem passa pela porta de uma das Lojas Marisa espalhadas pelo país pode até desconfiar que será vigiado enquanto passeia entre araras com blusas, bermudas ou lençóis. Mas poucos imaginam que as câmeras instaladas na loja não servem só para garantir a segurança. A Marisa, uma das principais redes varejistas do Brasil, está investindo em novas tecnologias para monitorar seus clientes. E um dos objetivos, agora, é conhecer melhor o comportamento das pessoas para aprimorar o atendimento e a eficácia da propaganda dentro da loja.

Acima das portas ficam câmeras que medem o volume de pessoas que entram e saem. Outras câmeras, localizadas sobre os caixas, contam o número de clientes nas filas, para indicar se há necessidade de deslocar mais funcionários para ajudar no atendimento. Tudo é feito em tempo real e reportado por meio de relatórios na web. Essa combinação de dois conjuntos de câmeras é encontrada também em outras lojas, bancos, shoppings e supermercados. As empresas usam recursos de visão computacional — incluindo imagens térmicas obtidas por sensores de infravermelho — para identificar e contar as pessoas.

A principal novidade do projeto criado pela empresa brasileira 3RCorp, que está instalando o sistema na Marisa, é a adoção de displays inteligentes. Cada display é formado por uma câmera e um televisor que exibe publicidade. A câmera reconhece a presença das pessoas em frente à TV. Assim, o sistema pode cronometrar o tempo em que elas fi cam por lá. Essa informação vai para um banco de dados. Cruzando esses dados com a programação de anúncios, a rede de lojas é capaz de saber o que atrai mais a atenção dos consumidores. Pode, assim, alterar a programação de acordo com o gosto das pessoas. Esse sistema é uma ferramenta valiosa para anunciantes e agências que usam esse tipo de mídia. “Não existia, até agora, essa noção da audiência das mídias indoor porque não havia como medir”, diz Fábio Vitaliano Filho, diretor da 3RCorp. Há dois passos já planejados para aperfeiçoar o sistema de monitoramento. Primeiro, a 3RCorp pretende implantar o reconhecimento do sexo dos visitantes — com 85% de acerto. Em seguida, a ideia é medir a fidelidade dos clientes. Para isso, eles serão identificados por meio de características faciais como posição dos olhos, do nariz e da boca. Caso seja preciso gravar as imagens para analisá-las, os clientes serão avisados por aquela conhecida placa de “Sorria, você está sendo filmado”.

Linha de montagem

Toda essa tecnologia está baseada em sistemas que analisam imagens, a visão computacional. A variedade de usos é enorme. A indústria automobilística, por exemplo, emprega câmeras para controlar a qualidade da montagem de carros feita por robôs. Elas analisam detalhes como a cor e o modelo de puxadores e travas de portas, por exemplo. Caso haja algum erro, o operador do robô é avisado para fazer a troca das peças. A Ponfac, empresa gaúcha de sistemas de visão, adaptou câmeras que acompanham as linhas de produção do Prisma e do Celta, ambos da General Motors, fazendo essa checagem. O mesmo sistema de verificação de qualidade é usado para alinhar calçados produzidos em empresas do sul do país.

No ramo de alimentos, algumas companhias selecionam as frutas e os legumes mais maduros pelo reconhecimento automático de cores e tamanhos. O processo é realizado enquanto eles passam pelas esteiras de separação para o empacotamento. Já os hospitais podem acompanhar pacientes idosos ou que estão em situação de risco para saber se saíram da cama ou do quarto. Condomínios e pedágios usam o monitoramento de placas de veículos para liberar o acesso, abrindo automaticamente a cancela. “Nosso desafio é encontrar a melhor relação custo-benefício para cada empresa”, afirma Moisés Pontremoli, diretor-presidente da Ponfac. Cada projeto precisa de equipamentos diferentes, como câmeras que podem variar de 500 reais a 500 mil reais, cada uma com precisão e velocidade diferentes. “Usamos o hardware mínimo necessário em cada situação e trabalhamos com o software para obter os resultados esperados”, diz.

Vôlei e futebol

A visão computacional também está presente no esporte e pode ajudar a tirar dúvidas cruciais sobre gols e pontos duvidosos. A 3RCorp desenvolveu a tecnologia para bolas de vôlei inteligentes da Penalty — o chamado sistema d-Tech. Esse sistema deve ser usado no próximo torneio da Superliga Brasileira de Voleibol. A empresa diz que superou os problemas enfrentados no passado, como o esgotamento rápido demais da bateria que alimenta o circuito eletrônico, nas bolas e a falta de precisão nas informações.

Um conjunto básico para uso numa partida de vôlei inclui quatro bolas com chip (uma delas de reserva), oito antenas de radiofrequência, seis câmeras e um palmtop, que fica com o juiz e recebe as informações. As câmeras captam as imagens com resolução de 320 por 240 pixels a 150 quadros por segundo e transmitem os dados a 1 gigabit por segundo. O projeto, bancado pela Penalty, custou 2 milhões de dólares. O preço por jogo é alto, o que pode dificultar, por enquanto, a adoção do sistema. Instalar câmeras e antenas custa cerca de 100 mil reais, e, o monitoramento durante a partida, outros 30 mil reais. No futebol, a bola com chip já foi testada em competições, mas a Fifa reluta em adotá-la, alegando que a precisão ainda não é suficiente. Quem sabe até a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, ela já esteja em campo? São os olhos artificiais das câmeras facilitando nosso dia a dia.

Videogame sem controle

O projeto Natal, recém-anunciado pela Microsoft para o Xbox, promete levar a visão computacional aos games. O plano da empresa é desenvolver um acessório que vai reunir câmera, sensor de profundidade e microfone. Esses três dispositivos vão captar os gestos e a voz do jogador para comandar o jogo. Assim, a pessoa vai poder jogar sem nada nas mãos.

Fonte: Plantão Info