Devo admitir que não concordo este texto na íntegra. A razão é bem simples: entendo que mostra um desabafo de quem não vê mais nada a ser feito, a não ser deixar que a corrupção (e todas as coisas erradas que tanto odiamos e diariamente nos dizemos inconformados) prospere, como se nada mais tivéssemos a fazer.
Penso que, ao contrário, temos que agir de forma digna, honesta, em tudo que fazemos no dia a dia. Não considerar o lixeiro que devolve a mala de dólares encontrada como um super homem e sim como alguém que fez o que era correto. Não se trata de desvalorizar seu ato, mas uma consciência de que este é o correto e não o herói. Se experimentarmos fazer do nosso dia a dia uma coleção de pequenas honestidades, quem sabe os governantes terão isso como uma forma de vida e não como uma forma de estar sob holofotes da mídia.
Ah, sim! Quase ia me esquecendo de mencionar que admiro a explanação clara do texto e principalmente a idéia final de fazer com que as pessoas que estão ao redor destes corruptos se envergonhem dos mesmos!
INTOCÁVEIS E INVENCÍVEIS (Nelson Motta)
Não tenho mais nenhuma ilusão de um dia ver algum desses criminosos travestidos de parlamentares atrás das grades e devolvendo o que nos roubou. Eles são muitos, e invenciveis. Sob fogo cruzado de denúncias, juntam-se para se defender, como fizeram PT e PMDB no Senado, embora digam sempre que é pela instituição, a mesma que eles aviltam e apequenam com seus atos. O dinheiro roubado de nossos impostos, teoricamente, pode até ser recuperado, mas o crime de desmoralizar uma instituição não tem preço. O que nos resta? Confiar na Justiça? Na Polícia? No ladrão ? Com Sarney e Renan comandando o Senado e espantados com a descoberta das 181 diretorias? A maior parte foi criada pelos dois.. O resto, por Jader Barbalho, ACM e Lobão. E pior. Foram criadas por resoluções da Mesa e ninguém reclamou. E mesmo se reclamasse não adiantaria nada. Tudo dentro da Lei, na liturgia do cargo. Seria um exagero comparar as disputas pelo poder no Congresso com as guerras de quadrilhas pelos pontos de venda de drogas nas favelas cariocas? Só porque uns vendem crack e cocaína e outros, privilégios e ilegalidades? Guerra é guerra, vale tudo na disputa pelos pontos de poder. Se um tiroteio é de balas, o outro é de números e nomes; mas sempre sobram balas perdidas. Mas, quando o cerco aperta, os dois bandos acertam um armistício: o verdadeiro inimigo é a Policia. Ou, no caso do Senado, a opinião pública. Porque eles não temem a polícia. Nem a justiça. Eles só tem medo de perder eleição. Diante do pacto de não agressão entre os dois bandos, resta-nos confiar nos ódios, nas invejas e nos ressentimentos das legiões de apadrinhados que estão perdendo a boca e se vingando de seus traidores. Que muitas falas perdidas encontrem seus alvos. Diante da certeza de que eles vencerão, que jamais pagarão por seus crimes, que continuarão ricos e corruptos, e até mesmo respeitáveis, resta-nos ridicularizar suas fi guras toscas, seus figurinos grotescos, seus cabelos tingidos, suas caras botocadas. Para que suas esposas e amantes leiam, e seus filhos se envergonhem deles no colégio. Como nós nos envergonhamos todo dia. Façamos nossa parte. |